A Paróquia de Santo Antônio de Jequié

Sendo Jequié uma cidade predominantemente católica, a festividade religiosa mais importante da vila ficou sendo o “13 de junho” dia do padroeiro local, seguida da Semana Santa e do Natal. Nessa época a Festa de Santo Antônio de Jequié já atraia gente de toda a redondeza e durante muito tempo constituiu o principal evento da cidade, com suas trezenas, precedidas das novenas do Mês de Maria, suas quermesses maravilhosas e sua famosíssima procissão, que percorria as principais vias públicas da cidade. A fama de ser a melhor festa da região foi mantida até meados dos anos 80, quando foram introduzidas em suas quermesses músicas e alegorias alienígenas, pouco condizentes com a sua tradição.

A grande enchente do Rio das Contas em 1914 trouxe grandes prejuízos a Jequié. A cidade que crescia com vigor, sofreu bastante com a calamidade. Tudo começou nos primeiros dias de janeiro daquele ano, quando, depois de oito dias de chuvas constantes, as águas do rio começaram a subir assustadoramente. Com o aumento das chuvas em toda a região, as águas invadiram a cidade e sobreveio a catástrofe. Para se ter a extensão da tragédia, as águas atingiram a atual Praça Ruy Barbosa, que na época era um mangueiro da firma de Vicente Grillo. A cidade de Jequié perdeu dois terços de suas construções e sua primeira igreja, construída com tanto amor e sacrifício, sucumbiu diante da revolta das águas.

Passada a tempestuosa agitação das águas e o leito do rio voltando a sua normalidade, o povo arregaçou as mangas para reconstruir a sua cidade. Uma nova igreja foi erguida para abrigar a Paróquia de Santo Antônio, ela foi edificada numa área bastante elevada, de terreno regular, doado por Vicente Grillo, situado numa praça aberta entre o traçado da Avenida Rio Branco com o traçado da Rua Nestor Ribeiro. O antigo cemitério da cidade, que era situado nessa área, foi demolido e transportado os restos mortais de seus sepultos para uma colina, afastada da cidade, onde é hoje o atual cemitério São João Batista. No terreno onde outrora ficava o antigo cemitério, 20 anos depois, foi erguido o Grupo Escolar Castro Alves (1934), hoje Museu Histórico de Jequié. Em seu principio, a construção da nova igreja foi elaborada de uma maneira prática, para atender as imediatas necessidades religiosas da população. Entretanto sua edificação obedecia alguns fatores essenciais em sua estrutura visando alguma alteração futura. Por muito tempo funcionou sem a sua famosa torre. Mais tarde em 1928, a igreja foi reformada, obedecendo ao estilo Neo Gótico, projetado pelo arquiteto francês André Saffrey e executado pelo engenheiro alemão Carlos Kuenh, o qual construiu as escadarias da igreja e a sua torre, colocando nela um grande relógio, doado por Vicente Grillo, deixando todo o projeto pronto para ser terminado em etapas posteriores, sendo concluído, definitivamente, em 1945.

Em 1939, o arcebispo D. Augusto Álvaro da Silva visita Jequié e é recepcionado pelo pároco da Igreja de Santo Antônio, Padre Altino Freire, que veio a falecer em 29 de junho de 1949, ficando em seu lugar o padre o padre Climério Andrade que ocupou o cargo de pároco da Paróquia de Santo Antônio e Igreja Matriz de Jequié.

No início dos anos 50, a Paróquia de Santo Antônio ganha uma sede própria. Edificada atrás da igreja, na Rua Nestor Ribeiro, de esquina com a Rua 10 de Julho, a Casa Paroquial, residência oficial do pároco primaz, é beneficiada com um magnífico teatro, que fez História em nossa cidade. A partir de sua inauguração, pode a comunidade jequieense deleitar-se com suas tertúlias semanais nas tardes de domingo. Palco de peças teatrais amadoras, a maioria das quais infantis, abrigou em seu auditório o Clube de cinema durante os anos 60.

A década de 50 foi muito envolvente para a comunidade católica jequieense. Em 1952, Jequié recebeu a visita da Imagem da Virgem de Fátima, vindo da cidade de Fátima em Portugal, que durante alguns dias foi recepcionada na Igreja Matriz com missas e procissões nas principais ruas da cidade, como também na Igreja do Perpétuo Socorro no Jequiezinho e na capela do Ginásio Jequié, com missa campal, rezada pelo padre Leônidas Spínola.

As festas religiosas dessa época eram bastante animadas. Havia novenas no final do ano, do Natal até o dia dos Santos Reis, com missas do galo no Natal e Ano Novo, com o altar armado na escadaria da igreja, lotando toda Praça Castro Alves de fieis. A festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade era a mais bonita, com suas

trezenas, suas quermesses e sua famosa procissão, que segundo as pessoas mais antigas, no ano de 1958 contou com a presença de dez mil fieis, os quais acompanharam o saudoso padre Climério Andrade em seu préstito religioso, numa época que a população do município era apenas de 52 mil habitantes.

No início dos anos 60 o padre Climério é ordenado bispo, sendo designado para ministrar a diocese de Vitória da Conquista. Entre os párocos que o sucedeu, um se destacou perante os outros e a paróquia de Santo Antônio ganhou um grande pastor, que muito fez pela comunidade católica jequieense; trata-se do padre Jairo Ruy de Matos, que mais tarde e ordenado bispo, com cerimônia na Igreja Matriz de Jequié, foi transferido para a diocese da cidade Senhor do Bonfim.

No dia 07 de novembro de 1978 é criada a diocese de Jequié, desmembrada da diocese de Amargosa, sendo seu primeiro bispo, monsenhor Cristiano Jacob Krapf. Sendo assim a Igreja Matriz de Jequié passou a ostentar o nome de catedral.

Esse artigo foi baseado nas obras do professor e historiador Emerson Pinto de Araújo e depoimento de diversos cidadãos jequieenses.

cantorcharlesmeira@hotmail.com às 07:22

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Close