Cacá Leão: ‘Todos os membros do PP entendem que é importante caminhar ao lado de Bruno em 2024’

Deputado federal pela Bahia entre 2015 e o início de 2023, o atual secretário de Governo da Prefeitura de Salvador, Cacá Leão (PP), conversou com exclusividade com este Política Livre sobre política na última sexta-feira (17). Foram quase 25 minutos de papo sobre diversos temas, entre os quais a relação do Executivo municipal com a Câmara de Vereadores, a federação entre o partido dele e o União Brasil – que, segundo Cacá, ainda pode acontecer -, a troca de comando do PP baiano e, claro, as eleições de 2024. O secretário cravou apoio dos pepistas à reeleição do prefeito Bruno Reis (União) e, sobre a vice, disse que “em time que está ganhando não se mexe”. Confira abaixo.

Política Livre – A Câmara de Vereadores manteve, na semana passada, o veto do prefeito Bruno Reis (União) ao projeto da Mesa Diretora que garantia a incorporação de gratificações salariais aos servidores do Legislativo, inclusive aos aposentados e pensionistas. Podemos dizer que foi o primeiro teste do governo municipal na Câmara depois das eleições de 2022, contrariando até uma posição externada pelo presidente da Casa, o vereador Carlos Muniz (PTB), que disse ser a favor da derrubada do veto. Esse placar será uma tendência?

Cacá Leão – Na verdade a gente tem dialogado muito com os vereadores. Isso é uma marca do prefeito Bruno Reis. Um político de diálogo, um cara que sempre procurou ter a melhor relação possível com todos. No ano passado, ele encontrou algumas dificuldades, alguns atritos com movimentos políticos na Câmara, mas teve a capacidade de, passado o processo eleitoral, baixar a temperatura, colocar a bola no chão e retomar o diálogo com todos os vereadores. Foi a primeira orientação que ele me deu quando assumi a Secretaria de Governo: dialogar com a Câmara, construir pontes, dialogar com os vereadores. E isso tem dado certo, haja visto placar bastante extenso que tivemos nesse primeiro teste. Durante a semana (passada), tivemos a oportunidade de dialogar não só com os vereadores, mas também com a comissão que compõe os servidores da Câmara, para mostrar que existe o contraponto, o outro lado, o lado da Prefeitura, de dificuldades inclusive constitucionais para cumprir com os valores apresentados. O fundo de Previdência da Prefeitura fez uma demonstração e nós nos comprometemos de não encerrar o diálogo e, dali para a frente, manter a porta aberta de conversa para que a gente possa chegar a uma solução.

Até parte da bancada independente, formada por PTB, PL, PSD e Podemos, votou com a prefeitura. Você tem dialogado com esses vereadores?

Tenho conversado com todos que me procuram, inclusive com os da bancada de oposição. Já estive com a líder da oposição, com alguns vereadores do PT, do PCdoB, sempre procurando colocar a discussão sobre a cidade acima de qualquer posição política. Esse é um ano em que a gente precisa pensar nos projetos importantes para a cidade. O presidente Carlos Muniz tem procurado manter essa porta aberta de diálogo. Com a orientação que o prefeito me deu, estou dialogando com todos que integram a Câmara.

O senhor falou em projetos para a cidade. Já existe uma relação das propostas que o prefeito pretende enviar à Câmara este ano? Haverá algo de maior impacto?

Não. A gente não fez ainda essa discussão do que vai ser enviado para a Câmara, do que é que vai ter. O prefeito tem feito essa avaliação dentro do governo. A gente tem aí uma gama de projetos já aprovados que vão ser ou estão sendo tocados pelo Executivo. Nesse momento não tem nada que se precise encaminhar, mas não é por isso que não vamos dialogar e construir as pontes. Esse diálogo tem que ser permanente.

Os vereadores da oposição têm batido muito na questão do reajuste do transporte público, que deve ser anunciado em abril pela Prefeitura. O prefeito pretende discutir a questão com a Câmara?

O prefeito tem procurado debater isso em Brasília. Nas duas ultimas semanas, ele esteve com o presidente da República, inclusive. Provavelmente nesta semana voltará novamente a Brasília para dialogar sobre a aprovação do subsidio do transporte, que é tema mundial, e não apenas do Brasil. As grandes cidades precisam discutir essa questão do subsídio para que o cidadão não seja penalizado com aumentos abusivos das passagens. Bruno tem capitaneado isso na Frente Nacional de Prefeitos e quando a proposta (de reajuste) for concreta, o prefeito vai ouvir todos, inclusive os vereadores.

No Carnaval, você fez um convite público para que Carlos Muniz se filiasse ao PP. Essa conversa evoluiu?

Foi engraçado isso porque quando me fizeram esse questionamento eu encontrei (Muniz) logo depois e disse a ele que havia feito o convite pela imprensa, e fazia naquele momento também pessoalmente. Muniz é um amigo, uma grande figura, tenho certeza que para todos nós integrantes do partido no Brasil, na Bahia e em Salvador seria uma grande honra tê-lo em nosso quadros.

Mas as conversas seguem acontecendo, evoluíram?

Fiz o convite pela imprensa e fiz pessoalmente, mas nunca discuti sobre esse assunto com ele novamente. Mas volto a reafirmar que seria uma honra tê-lo em nossos quadros.

Numa conversa exclusiva recente com este Política Livre, Bruno Reis afirmou que tem interesse em ter o PL na base do governo, admitindo até que o partido pode contribuir com indicações para compor a gestão. Você tem participado dessas conversas?

Não tenho feito essas conversas. Isso tem ficado a cargo do prefeito, que tem tocado as discussões a nível de partido. Não participei de nenhuma conversa com o PL e nem com outro partido para tentar atrair para a base.

A federação entre o PP, seu partido, e o União Brasil não avançou. O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), afirmou em nota que as conversas estavam encerradas. O que você acha desse “casamento”?

São dois grandes partidos. Não é realmente uma coisa fácil de se fazer. Os dois estão presentes em todos os estados. Um tem quase 60 deputados, o outro 50, e formariam, juntos, a maior bancada na Câmara Federal. Neste primeiro momento, a discussão ficou parada, mas os partidos vão se unir em bloco para tratar das questões da Câmara Federal. E a questão da federação não está excluída. Foi dado um tempo nas discussões, mas as conversas podem voltar em 20 ou 30 dias, ou daqui a seis meses, ou após as eleições (de 2024). A federação não foi descartada. Lá na frente pode acontecer. Foi o que me disse o presidente Ciro Nogueira.

O apoio da bancada estadual do PP ao governo Jerônimo Rodrigues (PT) é um obstáculo para a federação?

Não, até porque isso foi uma decisão dos deputados, que sempre esteve separada das decisões do partido. Os deputados estaduais do partido decidiram fazer esse encaminhamento, esse movimento para a base, mas isso não foi homologado pela Executiva do PP. Mas na frente pode ser que aconteça, mas agora é uma posição dos deputados, e não de partido. Não influencia nem a favor e nem contra a federação, que está sendo tratada em Brasília pelo partido e pelos deputados federais.

Se houver a federação seria permitida aos deputados estaduais do PP essa posição de se manter na base de Jerônimo?

Da nossa parte sim. Sempre disse que não concordo, mas respeito a posição dos deputados estaduais. Foi um desejo deles, que se juntaram e dialogaram e construíram essa questão com o governo. Repito: apesar de não concordar, respeito.

Na Bahia, a federação seria comandada pelo grupo do ex-prefeito ACM Neto (União), seu aliado?

Olha, isso está sendo discutido estado por estado. Há alguns critérios colocados que na Bahia favorecem o União Brasil, que tem mais deputados federais e estaduais do que o PP. Mas o acordo é que essa gestão seria feita de forma compartilhada, podendo ouvir a todos. Eu particularmente sempre torci pela criação da federação.

Suspensas as discussões sobre a federação, o PP agora trata já da eleição interna em abril, quando o seu pai, o deputado federal João Leão, deve deixar o comando do partido na Bahia. Quem é o seu candidato a sucedê-lo?

O mandato do deputado federal e presidente João Leão se encerra em abril e ele tem externado sempre sua vontade de não continuar, vontade com que eu comungo há algum tempo. É importante essa reoxigenação e que esse ciclo aconteça. Tenho trabalhado muito para que os três postulantes desse momento, o deputado federal Mário Negromonte Júnior, o deputado federal Cláudio Cajado e o ex-deputado federal Ronaldo Carletto consigam encontrar um consenso. A gente deve se reunir no começo de abril para marcar a data da convenção, mas espero que até lá seja construído um nome de consenso sobre quem vai presidir o partido na Bahia. Já estivemos mais longe do que perto desse consenso. Sobre preferência pessoal minha, se eu revelar vou atrapalhar justamente a construção desse consenso, porque queira ou não queira tenho voz ativa e terei voto. Tenho conversado com todos com o objetivo principal de tentar construir um nome que unifique e agrade todos para que a gente possa começar a pensar nas eleições de 2024 nos 417 municípios da Bahia.

Já há consenso sobre o PP apoiar a reeleição de Bruno Reis em Salvador?

Esse consenso já existia. Todos os membros do partido entendem que é importante caminhar ao lado do prefeito Bruno nas eleições de 2024.

Diante disso, o PP pretende indicar um nome para compor a chapa de Bruno em 2024?

Nunca discutimos esse assunto e não trabalho com essa possibilidade. Até porque faço coro que time que está ganhando não se mexe. O prefeito Bruno Reis tem direito à reeleição, assim como a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT). Então, acho que esse caminho natural.

Então você defende que Ana Paula continue na vice?

Defendo a continuidade do projeto. Em time que está ganhando não se mexe.

Qual será o critério do PP nos outros municípios, já que o partido hoje está dividido entre o grupo liderado pelo PT e o de ACM Neto?

Na verdade o partido sempre foi muito democrático nessas questões. Sempre respeitamos a posição dos filiados nos municípios. Respeitamos, inclusive, quem decidiu não seguir a decisão da Executiva estadual sobre as eleições de 2022. Cada deputado que foi votado nos seus municípios tem prioridade na escolha dos diretórios, o que demonstra a força do grupo político daquela cidade, que fez força para que elegêssemos a bancada de deputados e para que tivéssemos votos em todos os municípios da Bahia. A gente vai entrar nessa discussão, mas o que tenho pedido a todos é que eu possa ser o voto de minerva caso não haja consenso, desempatando o voto no município e, claro, puxando a sardinha para quem esteve do nosso lado (risos).

Ainda em dezembro de 2022 você nos disse que não seria candidato a nada em 2024. Quais são seus planos eleitorais para 2026? Suceder novamente o pai na Câmara Federal?

Está muito cedo. Em 2024 não seria candidato a nada, nem em Salvador e nem em Lauro de Freitas. Minha pretensão de fato é só disputar eleição em 2026, mas não sei se a deputado federal, senador, governador ou, quem sabe até, a presidente da República.

Informações do politica livre

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