Silvio Santos apoiou todos os presidentes e se dizia “office boy de luxo do governo”
“Office boy” de luxo do governo
Uma inspiração do dono do SBT para ensaiar os passos na política teria sido Manuel de Nóbrega — importante radialista, humorista, empresário e também pai de Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador do programa “A Praça é Nossa” (SBT). Manuel, que era uma espécie de tutor para Silvio, foi também deputado estadual em São Paulo e Constituinte em 1947.
Foi o pai de Carlos Alberto quem também incentivou Silvio a ter o seu próprio canal de TV. No início da década de 1970 o apresentador pleiteou a concessão do canal Excelsior e chegou a se reunir com o presidente Emílio Médici, embora a empreitada tenha ficado pelo caminho. Desde então, o comunicador sempre fez afagos ou se encontrou com os presidentes.
Em 1975, o governo federal abriu licitação para o canal 11 do Rio de Janeiro, e o apresentador resolveu participar da disputa. Silvio esteve no Palácio do Planalto e em reuniões com integrantes do governo. Tanta articulação nos bastidores rendeu frutos. No final daquele ano, em pleno governo do general Ernesto Geisel, recebeu a concessão. Em 14 de maio de 1976, a programação entrou no ar. Era o embrião do SBT, emissora lançada cinco anos depois.
O SBT entrou no ar pela primeira vez na manhã de 19 de agosto de 1981, com a transmissão da solenidade de assinatura da concessão e um discurso de Silvio Santos, ao vivo e a cores, no Ministério das Comunicações.
A criação da emissora foi possível porque o presidente João Figueiredo abriu, em 1980, uma licitação para concessão de duas redes de televisão, e o empresário se empenhou em convencer o governo de que ele deveria administrar os canais. Para isso, encontrou-se com o chefe da Casa Civil e com o próprio presidente.
Logo depois de conseguir criar o SBT, o ex-ambulante tirou do papel um quadro chamado “A Semana do Presidente”, para divulgar os feitos do governo. A iniciativa foi vista como um recurso para estimular o ufanismo e aumentar a popularidade do governo. Foram mais de 20 anos de programa, até o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
“Eu sou concessionário, um ‘office boy’ de luxo do governo. Faço aqui o que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime”, disse o apresentador em 1988, para o jornal Folha de São Paulo.
A entrevista e a proximidade do Homem do Baú com o poder foram relembradas pelo jornalista Mauricio Stycer, autor do livro “Topa Tudo por Dinheiro: as muitas faces do empresário Silvio Santos”.
Essa declaração, resgatada pelo jornalista, ocorreu durante o governo de José Sarney (MDB), com quem Silvio Santos também esteve. O encontro foi realizado especificamente em maio de 1985, numa época em que havia uma ameaça de revisão das concessões.
Relações com os presidentes eleitos
O apresentador também esteve com Collor antes da eleição de 1989, quando garantiu que não seria candidato, promessa descumprida no final da campanha – a tentativa de Silvio de ser candidato foi parar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Após o imbróglio todo da campanha, já com a vitória do político alagoano, Silvio recebeu a ministra da Economia, Zélia Cardoso, em seu programa no início de 1990 e chegou a manifestar apoio às medidas econômicas.
Passado o impeachment de Collor e a posse de Itamar Franco, o apresentador recebeu o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, no início de 1994, em seu programa. Faltavam poucos dias para o início da circulação da nova moeda, o real, medida que foi exaltada por Silvio na ocasião. Eleito presidente, FHC chegou a visitar as instalações do SBT, chamando-as de “uma fábrica de sonhos”.
Em seguida, chegou a vez do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, em 2008, chegou a gravar uma mensagem para a abertura do Teleton, programa anual para arrecadar fundos para a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Um encontro entre os dois ocorreu em setembro de 2010. Duas semanas depois, seria feito o anúncio da quebra do Banco Panamericano, um dos negócios do empresário. Luiz Sandoval, ex-presidente do Grupo Silvio Santos, disse à Folha de São Paulo que o motivo da visita foi a quebra do banco e que o apresentador fora até o Planalto pedir ajuda ao presidente.
Com Dilma Rousseff (PT), o encontro foi realizado no dia do debate com Aécio Neves, no segundo turno da eleição presidencial de 2014. Silvio chegou a ser condecorado por Dilma com a Ordem do Mérito das Comunicações.
Após o impeachment da mandatária – que, a propósito, não foi transmitido pelo SBT -, a emissora ficou empolgada com as reformas trabalhista e da Previdência no governo Michel Temer (MDB) e reproduziu conteúdo a favor delas. Em janeiro de 2018, Temer foi recebido por Silvio Santos em seu programa.
Em novembro de 2018, durante uma noite de Teleton, Silvio falou ao telefone, no ar, com o então presidente eleito Jair Bolsonaro. Afirmou torcer para que ele fizesse um bom mandato e se reelegesse.
“Oito anos com Bolsonaro e oito anos com [Sergio] Moro, vai ter 16 anos de um bom caminho”, disse o apresentador. Àquela altura, o SBT já havia exibido mensagens de cunho patriótico do tempo da ditadura militar, como o slogan “ame-o ou deixe-o”, criado nos tempos do governo Médici. A repercussão foi ruim, e a exibição foi cancelada.
Bolsonaro visitou Silvio em casa, em São Paulo, em dezembro de 2020. Na ocasião, o apresentador disse que simpatizava com o presidente. Em tom igualmente amistoso, o Homem do Baú entrevistou Bolsonaro em maio de 2019, mantendo a tradicional postura de afagos aos presidentes que manteve desde a década de 1970.
Em 2023, já afastado da televisão, Patrícia Abravanel, filha de Silvio e que assumiu sua atração aos domingos, recebeu o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) na edição que comemorou os 60 anos do “Programa Silvio Santos”.